quarta-feira, 6 de junho de 2012

Crônica de um futuro (im)possível

Crônica de um futuro (im)possível


Por Jeison Giovani Heiler


Respondendo aos comentários de minha aluna Caroline, a quem agradeço, no texto "encruzilhada" que surgiu de debates travados na academia, senti-me motivado a refletir um pouco sobre o sentido que podem fazer  algumas discussões sobre os futuros (im) possíveis no atual contexto.

Em primeiro lugar, o socialismo, segundo penso, não é um artefato passível de implantação, como poderia ser um software posto a operar em um computador. 

Esse socialismo com o qual sonhamos às vezes, seria muito mais o resultado de uma caminhada longa e árdua para onde, necessariamente, os povos vão caminhando de mãos dadas. Às vezes com armas em punho contra as classes que lhes impedem o passo. Às vezes com a força retirada da democracia construída nos limites do capital.

Mas o que é mesmo o socialismo? Isso pouco importa. É um nome? É um modelo ideal de organização? Não ouso tentar saber.

Desconfio apenas que o que chamou-se modo de produção capitalista, e que tem recebido também tantos nomes ao longo da história, cumpre funções específicas para um certo grupo de pessoas pertencentes ao gênero humano cuja lógica e filosofia de vida consiste em encarar o mundo a partir do próprio umbigo.

E quase todas as coisas construídas pelo homem ao longo de toda a sua jornada tem servido aos interesses umbilicais desse grupo.

O que vamos colocar no lugar disso tudo? Não sei. Não ousaria pensar. A história, temos apreendido, faz-se ao andar. Apenas, para que as coisas não tomem um rumo demasiado voluntarista, carece que tenhamos no horizonte, uma direção a seguir. 

Esta direção é o que alguns chamam utopia e que justamente por estar no horizonte afastado, escapam-nos sua mal distinguida figura e seus contornos.



Com Hannah Arendt pode-se perceber também o quanto são equivocadas as idealizações que propõem uma organização do mundo da vida a partir do amor. O amor ao próximo de que fala o cristianismo. O amor, concordando com Arendt, é um sentimento privativo à esfera privada. Sua publicização, segundo testemunha a história, teve resultados nefastos. Em nome do amor algumas das piores barbáries foram praticadas na longa história humana e são perpetradas todos os dias. Quer um exemplo? Adolescentes são privados de liberdade e trancafiados em centros de internação porque o estado os ama, e que o melhor para o seu futuro. pessoas em sofrimento mental são manicomizadas porque as famílias as amam, e portanto, estão pensando no seu melhor. Os regimes totalitários nazi/facistas atuaram em nome do amor pela população ariana que merecia um mundo livre das criaturas impuras que infestavam o mundo.  


Então o que podemos pedir? Onde vai estar o laço que novamente unirá o gênero humano em torno de um projeto de vida universal? Este laço perdido é que devemos procurar. Na história humana, ora esteve manifesto na ritualística mítica, mágica, ora nas divindades, ora na honra, ora nos preceitos cristãos, ora no direito. 


Freud, escreve "o mal estar da civilização" e "o futuro de uma ilusão" discutindo estas questões. Reflete justamente que o cristianismo não pode mais dar conta de se sobrepor aos impulsos irascíveis humanos. Freud, pressupõe a maldade humana. Se aceitar-se esta tese, definitivamente nada mais há a fazer senão entregar todo poder ao Leviatã, concedendo-lhe a chancela para remediar os impossíveis laços humanos.


A esta visão de mundo, que na verdade tem origem em Hobbes, há a visão Aristotélica, segundo a qual o homem, afinal de contas, é bom. Este tese tem amparo (controvertido) antropológico no estudo de culturas e sociedades simples primitivas ou afastadas. A tese hobbesiana pode ser amparada nas páginas policiais de qualquer jornal (diriam os contestadores).


Pois bem, qualquer visão de futuro que possa ser articulada, necessariamente toma como ponto de partida essas visões da natureza humana. Mal ou Bom por natureza? Ou simplesmente, nenhuma das alternativas anteriores. Simplesmente: humano (nem bonzinho nem malvadinho).


Inobstante, o mundo futuro deve ser imaginado a partir dessa questão urgente: quais vão ser os laços que vão permitir o convívio humano pacífico. As respostas são reféns das visões de mundo que se possa fazer do homem. O laço lógico para os que pensam o homem como um sujeito que se constrói, social, histórica e culturalmente esta na solidariedade humana. No sentimento coletivo de que homens e mulheres que habitam o mundo estão social, histórica, cultural e geograficamente implicados. A dominação de um grupo sobre outro produz efeitos insustentáveis para o gênero humano e para o planeta que habita. 

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